quarta-feira, 28 de junho de 2023

Acordem!


Precisamos de rever o que se ensina, porque se ensina, o que se ensina, como se ensina  e com que instrumentos ensinamos. (...) Esta revisão tem de começar ao nível do 1º ciclo do ensino básico (...). Encontramo-nos perante uma catástrofe nacional (...) não nos iludamos, não basta fixar docentes, é fundamental que formemos novos professores, não somente em número mas também em qualidade" - Sofia Roque Ribeiro, secretária Regional da Educação dos Açores.



Já perdi a conta a quantos seminários, acções de formação científico-pedagógicas, formações de iniciativa sindical para ganho de uns créditos para juntar ao currículo profissional, enfim, todos os anos passam por aqui investigadores, autores, professores, tantos que tentam deixar uma semente que germine. Mas, não, tudo leva a crer que o "solo" não é fértil e o que hoje é aplaudido, amanhã é complemente esmagado pela rotina e pelo pensamento abstruso que dá conta de: se sempre foi assim, para quê mudar? Permitam-me que seja directo: são formações que entram a 100 e saem a 200! O curioso é que determinadas declarações são feitas na frente de políticos com responsabilidades que, à posterior, evidenciam nada quererem saber. 

Desta vez foi a secretária regional da Educação dos Açores que veio sublinhar, de forma clara, que "precisamos de rever o que se ensina, porque se ensina, o que se ensina, como se ensina  e com que instrumentos ensinamos". Trata-se de mais uma campainha de alarme que, estou certo, tocará e tocará mas que ninguém reagirá abrindo a porta ao futuro! 

Não disse nada que já não se soubesse, tantos são aqueles que assumem que este "rei vai nu", leia-se sistema. Mas teve o mérito, entre pares políticos de dizer o que, por aqui, não sabem ou não querem assumir. E isso foi importante, até pelo simples facto da mensagem ter vindo dos Açores, normalmente secundarizados. 


Mas não foi apenas a secretária. Também o meu Distinto Amigo Doutor Domingos Fernandes, hoje Presidente do Conselho Nacional de Educação, abordou, numa perspectiva ampla, o currículo que "identifica princípios, valores, conhecimentos, competências e atitudes que são consideradas fundamentais para o desenvolvimento do sistema educativo (...) por isso é um complexo empreendimento, na verdade uma construção social que envolve uma alargada diversidade de intervenientes, que vão desde as instituições de ensino superior, às associações profissionais, pedagógicas, científicas dos professores e/ou investigadores, passando por individualidades reconhecidas nos meios científicos, pedagógicos, artísticos e, em geral, culturais, até às associações do mundo empresarial".

E esta é uma questão central que se conjuga com as posições da secretária do governo açoriano. Esta posição do Professor Domingos Fernandes significa que o sistema educativo tem de passar por uma grande mesa de diálogo, onde todos possam reflectir e definir um caminho de permanente inquietação conducente ao sucesso. Fechar-se no corredor do poder, fingir que ouve ao jeito de quem tem "ouvidos de mercador", mantendo o seu rumo no pressuposto que se trata de uma "aposta" inequivocamente correcta, corresponde à manutenção do erro e do desastre. Acordem!

Ilustração: Google Imagens.

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