sábado, 17 de junho de 2023

Tecnologia na escola


Segui um uma peça integrada no Jornal Nacional da TVI. No essencial: "A Suécia está a tirar os computadores das escolas". A diversa tecnologia que tem sido considerada o novo lápis, papel e livro dos estudantes, numa leitura superficial, sofre agora um revés, porque, disse a ministra da Educação, "(...) estamos em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais na Suécia". "Um em cada cinco professores garante que os alunos nunca ou quase nunca escrevem à mão", escutei na referida peça.


Ora bem, esta posição, deduzi na compaginação com outras leituras, parecendo drástica não o é. Destina-se a recentrar o equilíbrio que deve existir entre a tecnologia e a aprendizagem. Não se trata de um regresso ao passado, a um "apagão digital na escola", mas tão somente corrigir pressupostos assumidos como única e irreversível via.

Ao seguir a peça lembrei-me do que deixei escrito no meu livro "A Escola é uma seca", onde transcrevi a posição de Tony Bates (Microsoft): "o bom ensino supera uma escolha tecnológica pobre, mas a tecnologia nunca salvará o mau ensino". Por isso, não me foi estranho que uma das figuras que abordou este tema tivesse sublinhado: "Alguns dos maiores gurus da tecnologia estão a mandar os próprios filhos para escolas sem computadores".

Portanto, a tecnologia tem de ser mais um meio, importantíssimo, ao dispor da aprendizagem. O que tem de mudar, e há políticos que não conseguem ver e aceitar isto, é tudo quanto de forma estática e ultrapassada se anda a propor às crianças e jovens: os currículos e os programas desfasados da vida real, a questão pedagógica, a posição que os professores devem assumir perante o novo mundo (de facto admirável), a obsessão por uma avaliação de sentido único, a morte do sonho e a falta de respeito pelo talento que cada um transporta, a infernal burocracia que invade os estabelecimentos de aprendizagem, as noções de aula e de turma, no fundo, o que tem de mudar é um sistema que não se centra numa aprendizagem com significado.

Isto conduz-me a assumir, uma vez mais, que não é com os "manuais digitais" ou com "salas de aula do futuro", falando de robótica ou de qualquer coisa parecida que, a prazo, a Região disporá de uma maioria de alunos felizes (professores, também) e com uma acrescentada capacidade de resposta aos novos problemas. Transportar o manual segmentado e estático para dentro de um digital, mantendo a mesma mentalidade que tem caracterizado a aprendizagem, equivale à obtenção, no futuro, dos mesmos resultados senão piores dos que hoje são públicos e notórios.

Ou por ignorância ou por ausência de responsabilidade política, a verdade é que continuam a insistir na tecla errada. Melhor dizendo, continuam a dar uma "resposta certa para um problema errado". Aliás, qualquer pessoa compreenderá que quem vende a tecnologia dos "manuais digitais", posteriormente, venha assumir, em conferência, que este é um mau produto ou mesmo desaconselhável. O produtor de conteúdos deseja vender e, por isso, faz a propaganda que mais lhe interessa. Parece-me óbvio. E é isso que está a acontecer. Paleio em que uns vendem e outros aceitam a compra como mezinha para todos os males. Aliás, explicou o Doutor Santana Castilho, em declarações à RTP-Madeira, que "(...) Estudos feitos por centros de investigação e cientistas da neurociência concluíram que o desenvolvimento cognitivo dos jovens que tiveram um grande mergulho nas tecnologias digitais aos 11 anos está similar àquele que há 30 anos as crianças tinham com 8/9 anos de idade".

Ora bem, a desconfiança está lançada. E porque os sinais deixam uma acentuada perplexidade, bom seria que o governo da Madeira (e o do país) assumisse a necessidade de provocar uma grande mesa de diálogo (debate) com cientistas, professores universitários e todos os outros, investigadores, autores, psicólogos, sociólogos, enfim, com todos os que pudessem oferecer um sustentado pensamento sobre este tema. Fechar-se, como tem sido apanágio, em uma pressuposta verdade, equivalerá seguir um caminho com consequências desastrosas no futuro.

Proponho mas, confesso, que são limitadas as minhas esperanças. Nem de propósito, esta manhã, recebi um cartoon interessante onde uma professora pergunta a um aluno: "qual é o tempo verbal na frase... "eu procuro um político que trabalhe para o povo". Resposta do aluno: "tempo perdido". 

Ilustração: Google Imagens.

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