quinta-feira, 15 de junho de 2023

Provas de aferição. Para quê?

 

Podia enunciar vários quadros que me conduzem à não aceitação das designadas "provas de aferição". Fico, apenas, por duas que se me afiguram adequadas ao meu pensamento. 



Primeiro, as "provas de aferição" constituem uma profunda desconfiança sobre o trabalho que é realizado nos estabelecimentos de aprendizagem. Aliás, hoje, é factual a existência de uma obsessão pela avaliação interna, porque o sistema está desenhado não no sentido da aprendizagem consistente, mas com as respostas pressupostamente certas às questões desenvolvidas nos manuais. E sendo assim, estando os estabelecimentos pressionados com a avaliação determinada pela linha hierárquica superior, a qual estende-se em cadeia desde o Conselho Pedagógico até ao Conselho de Turma, pergunta-se, que razões justificam uma aferição externa.

Mas admitamos que o sistema português, extremamente centralizador, seja a que nível for, não nutre confiança no trabalho desenvolvido nos estabelecimentos de aprendizagem. Admitamos isso que, aliás, é o que me parece existir. Neste caso, em segundo lugar, bastaria que, aleatoriamente, definissem um quadro de alunos que se sujeitassem à tal avaliação externa. E que podia não assentar numa verificação anual. Se a amostra revestir-se de natureza científica, adequada à população, estatisticamente, os resultados, com um alto grau de segurança, podiam(em) ser extrapolados para toda a população. 

Aliás, isto não tem nada de novo. Por mera comparação, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) é divulgado de três em três anos pela OCDE. Um programa destinado a aferir, no conjunto dos países e de forma aleatória, sobretudo os níveis de aprendizagem da língua, matemática e ciências.

E anda o sistema num constante rodopio anual que envolve a complexa organização escolar, quando, por outro lado, feitas as contas, grosso modo, desde o Básico ao Secundário, o aluno submete-se a cerca de 516 avaliações no conjunto de todas as disciplinas curriculares, fora muitas outras, algumas de natureza subjectiva, questiono-me, se existe algum sentido, numa escola séria, honesta, de rigor e qualidade, fazer aferições e até exames! Presumo que a hierarquia parte do princípio que os estabelecimentos não são sérios, honestos, rigorosos e de qualidade. Mais, ainda. A prazo, com o esbatimento do secundário face ao superior, os próprios exames de acesso, deixarão de ter as características que hoje conhecemos. A acessibilidade será totalmente diferente, dizem tantos investigadores situados no estudo sobre a aprendizagem compaginada com a vida real.

Tudo isto conduz-me a sublinhar o interesse de uma profunda reavaliação do sistema educativo, no sentido de ultrapassar posicionamentos assumidos como certos, para que se possa partir em busca de uma aprendizagem que respeite os talentos e os sonhos e que não (sobre)viva dessa desadequada e  obsessiva avaliação interna e/ou externa. Torna-se importante uma ruptura com o passado trazendo, prospectivamente, o futuro ao presente. E neste campo de análise, o que pensarão os líderes da Madeira Autónoma?

Ilustração: Google Imagens

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