sábado, 19 de novembro de 2016

"QUEM PODE CRIA, QUEM NÃO PODE ENSINA"


Andava eu, nos meus arquivos, à procura de um texto que escrevi, faz algum tempo, e dei com um outro, recente, do período negro do ex-ministro Nuno Crato. Li-o com o desprendimento do tempo político. Partilho aqui uma parte desse texto, naquela linha de pensamento que sustenta a necessidade de mudar o sistema educativo. "(...) entre milhares ou milhões de homens e mulheres, "Ghandi, Picasso, Einstein, deixaram-nos um legado valiosíssimo, seguindo caminhos muito diferentes". Isto quer dizer que a Educação na escola não constitui a única forma de aprender. E se a Escola é importante, e é, o seu pensamento estratégico não pode quedar-se pelo pensamento de ontem. Andamos a trabalhar nas consequências e não nas causas, simplesmente porque predomina uma agenda e, mais do que isso, uma atitude política redutora que muitas vezes desconstrói alguns bons passos que são dados. 


Urge uma nova concepção de Escola. Alexandre Quintanilha é um doutorado em Física. Um cientista. Tem uma frase espantosa: “EU VIVO PORQUE SOU CURIOSO”. O problema é que nós andamos a matar a curiosidade nas nossas crianças. No nosso sistema, uma criança que coloca muitas perguntas, genericamente, perturba o "planeamento da aula"! E não deveria ser assim. Há outras formas de organização. Li, há que anos, em “Professores para quê”, de Georges Gusdorf: “O mais alto ensinamento do Mestre não está no que diz, mas no que não diz”. E no meu relatório de estágio pedagógico, em 1971, escrevi no preâmbulo, uma frase de Bernard Shaw. Lembro-me como se fosse hoje: “Quem pode cria, quem não pode ensina”. Uma escola de receptores e de não participantes é uma escola condenada. E Bernard Shaw nasceu em 1856. Portanto, despertar essa curiosidade só é possível com uma ampla autonomia e com um outro enquadramento pedagógico. Não é com exames. Não há volta a dar. É nesta esteira que Ariana Cosme e Rui Trindade questionam: “Uma Escola que define a qualidade do seu ensino por uma visão enciclopédica de um conhecimento cuja utilidade se esgota nos testes, serve, afinal, para quê? (...)".
Para reflectirmos e, obviamente, comentarmos. Quanto ao artigo que andava à procura, não sei em que arquivo está. Vou ficar, uma vez mais, a pensar na escola que temos e na escola que deveríamos ter.
Ilustração: Google Imagens.

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