segunda-feira, 28 de novembro de 2016

VIVE-SE, NA EDUCAÇÃO, O EFEITO "CLEARASIL"


O Sistema Educativo parece não ser do interesse de uma significativa parte da população. Da experiência vivida e anotada ao longo de muitos anos, fico com o sentimento que, grosso modo, desde que os filhos estejam na escola, tendencialmente controlados, melhor ainda, se puderem lá passar o dia enquanto os pais trabalham ou por aí andam à procura do dito, pois bem, o "problema" está resolvido. Se a escola desperta ou não para o conhecimento, se a escola vai ao encontro dos interesses mais substantivos de preparação para enfrentar os desafios deste Mundo, isso, repito, parece-me, para muitos, de pouca relevância. E se isto concluo é, sobretudo, pela ausência de análise pública ao sistema, do debate e do comentário. Do sistema fala-se, sobretudo, quando os sindicatos levantam a sua voz, quando faltam professores para leccionar, quando um docente perde a cabeça e prega um tabefe e quando os actos de indisciplina saltam para as páginas da comunicação social. O miolo do sistema muito raramente é motivo de preocupação. O outro lado da coisa anda mudo! Nem por parte da esmagadora maioria dos professores. Leccionam, acatam, vergam-se, cumprem, interrogam-se no pequeno grupo, mas, assumir, publicamente, os seus dilemas, aí, alto, vá lá saber-se porquê. Curiosamente, em um tempo onde tantas são as plataformas informáticas. Prefere-se uma foto do pôr-do-sol, uma flor ou uma frase dita por alguém do que a reflexão dos problemas que nos deveriam preocupar. Sinais dos tempos.


Há, certamente, muitos factores que para isso contribuem. Muitos mesmo. Pode ser por incapacidade, por um deixa andar, encolhendo os ombros, partindo do princípio que a sua voz nada altera, pode até ser por medo de enfrentar problemas (quais, não estou a ver), pode ser pelo ambiente castrador do pensamento, de muitos anos, sublinho, pode ser pelo ambiente interno dos estabelecimentos de educação e ensino, extremamente verticalizado e obediente à hierarquia, enfim, pode ser por tantos motivos. Cada um sabe por que não intervém. Note o leitor que não estou a falar de participação partidária, mas de participação política e cívica. Porque o sistema educativo deve ser politizado. Ele é consequência óbvia das políticas que são tomadas. 
De facto, há tanto para dizer e há tanto silêncio cúmplice. Um paradoxo! Cada um cumpre a sua tarefa, "dá as aulas" do horário (que mal que isto me soa), debita e esclarece a matéria, avalia, comparece às reuniões e obedece aos ritmos impostos. Tudo no cumprimento do "projecto educativo de escola e de turma". Pode estar errado de raiz, mas pouco interessa. Importante é o relatório final, com mil e uma justificações, embora destinado ao arquivo morto. E assim a roda dentada vai funcionando, triturando e eternizando o sistema. Debate sério, profundo, fundamentado nas ciências, isso é uma miragem. Um dia, julgo eu, por arrastamento do que vai sendo produzido em outros espaços, quando algumas sementes lançadas derem flor e fruto, talvez isso desperte curiosidade. Espero!
Ora, se ao nível de quem governa, melhor é a manutenção de uma máquina velha e gasta do que experimentar outras, se ao nível dos docentes não se vislumbra uma apetência para meter o pauzinho na engrenagem, pergunto, que esperar do povo, em geral, cuja formação a este nível é deficitária? O que me causa apreensão é o facto de existirem cursos, seminários e jornadas de reflexão, com alguma frequência, normalmente com salas cheias e aplausos, e depois, tudo o que foi explanado morrer no instante que nasceu. Voltam à escola e emerge o efeito "clearasil" (anti-borbulhas e pontos negros), a tal "pomadinha" que a publicidade falava do "efeito de absorção". Aplaude-se e, logo de seguida, o sistema acaba por ter o efeito da "pomadinha", se alguém borbulhar é visto como um ponto negro! Logo é deixar-se absorver pelo sistema. O círculo vicioso mantém-se ao jeito de "o meu está feito". Tenho pena, pelas crianças, pelos jovens e pelo futuro.
Ilustração: Google Imagens.

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